Essa é uma das coisas que eu mais odeio. Quando você não quer se compromoter com algo, ou seja sincero e diga que não quer - eu admiro muito isso, ou simplesmente não diga nada. Agora, assumir uma obrigação, e depois fazer o diametralmente oposto: é incoerência. Quando ela só prejudica você, tudo bem. O problema é quando ela atinge
os outros - figura que, para mim, merece um trato com respeito, com cautela.
Hoje eu estava no computador, conversando com uma pessoa que eu amo muito e com um desconhecido. Eu acabei combinando de fazer uma brincadeira, de péssimo gosto aliás, com o desconhecido. Essa brincadeira era a negação completa do meu mais novo "valor de estimação", qual seja "não seja displicente com a emoção dos
outros". Não sei porque raios eu fui fazer a tal brincadeira, mas talvez por acreditar que ela acabaria logo depois.
Acontece que, nisso, chega meu irmão pedindo para usar o computador por
alguns poucos minutos. Fechei o MSN e o deixei usar. Peguei meu livro e fiquei lendo na cozinha, para não atrapalhar meu irmão naquilo que ele fosse fazer - fosse trabalho ou Orkut. Esperando que ele fosse o suficientemente decente e razoável para me avisar quando terminasse.
Extamente uma hora depois, sem praticamente parar de me preocupar com as conseqüências da minha brincadeira, eu decidi falar com meu irmão. Ele pediu mais 15 minutos. Ficou mais 7 só. E era Orkut.
Meu, se você não vai ficar só
alguns poucos minutos, não se comprometa com isso. E não faça
os outros (eu) se comprometerem
com outros (o desconhecido), prolongando uma brincadeira estúpida que não deveria ter durado nem os teus
alguns poucos minutos.
Acabou-se o comprometimento, o dever obrigacional? Se você assume uma coisa com alguém, cumpra simplesmente porque você assumiu. Faça por você. Por moral interna. Respeite sua própria lei. Seja autônomo -
auto+
nomos (lei).
O bosta do meu irmão não sabe respeitar as obrigações. Parece que tem que haver alguém de fora pedindo pra ele que elas se cumpram, o tempo todo ditando um ritmo. Eu fui pra cozinha ler, deixar ele livre, porque aprendi que eu não tenho que ficar cuidando dos
outros, impondo coisas pros
outros. Daí o bicho simplesmente passa por cima das expectativas que eu criei, sendo que dessa vez elas era reais, não eram imaginárias como antes foram! Cara, eu não consigo sempre impor ritmo às minhas coisas por mim mesmo, às vezes precisa alguém pra ditar o passo. Mas acho que quando envolve
outros, deve-se ter muita cautela.
Incoerente! Incoerente!
Descobri um novo xingamento.
Inclusive pra mim.
Por que eu fui fazer aquela brincadeira irresponsável?!
Não sei ainda qual dimensão das conseqüências que ela pode ter.
E é uma coisa tão ridícula, tão pequena, que se eu chego a contar, me chamam de dramático.
Dizem que eu sou muito duro comigo mesmo!
Mas eu morro de medo de reproduzir o que eu odeio.
Por menos que a dor seja, a odeio ab ovo, desde o início.
E eu odeio incoerência!
E mesmo assim sou tão contraditório!