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domingo, agosto 27, 2006

Pequeno

Eu sei que eu não tenho sido muito legal contigo. Na verdade, eu tenho sido péssimo. E eu sei que estou errado, porque a gente briga como fosse mais pro fim do que outra coisa. Eu preciso que tu sejas paciente comigo e que me ames a ponto de entender minhas limitações.

Tu me fazes ver as coisas de uma maneira que eu jamais seria capaz. E aí está a minha maior necessidade de ti, muito embora as tuas "piscinas".

Sabes que eu vi um daqueles filmes que era para ser de comédia enquanto eu terminava a garrafa de vinho que a gente abriu? A comédia é que eu chorei, e senti a imensa falta tua, três horas depois que te vi.

Faltaste para te falar o que eu senti e chorar na tua frente de novo quando eu mostrasse onde me dói. E para que me dissesses o que eu precisava ouvir e participasses da minha vida, porque é assim que te quero.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Itapema FM 97,3 MHz

Eu não tenho dúvidas ao afirmar que esta é a melhor rádio que se pode ouvir aqui em Florianópolis.
Eis alguns artistas que tocaram na última semana:

Portishead
Björk
Tori Amos
Belle and Sebastian
Chico Buarque
Vinícius de Moraes
Jamiroquai
Cazuza
João Bosco
Cartola


Ouvi dizer que agora tem um barzinho na lagoa com uma noite dedicada aos hits da Itapema. Me pareceu ótimo...




(muito tempo sem postar aqui)

quarta-feira, agosto 16, 2006

Eu sei que eu sou ingênuo quanto a possibilidade de mudar as coisas. E também o sou sobre ter bons sentimentos. E, sim, isso me faz sofrer por diversas vezes. Mas como eu poderia acreditar que tudo o que importa são os 60, 80, 100 anos que eu vou viver? Ou 22... sei lá! Acho pequeno pensar assim, porque antes de mim já vieram muitos outros 60, 80, 100 anos. E tantos mais virão depois...

Eu procuro imaginar quais os pensamentos que eu gostaria de ter segundos antes da minha morte - porque isso será inevitável. Fico pensando o quanto seria atordoante ver uma vida inteira dedicada a conquistar riqueza, segurança e felicidade pessoal. Quem sabe, nos meu derradeiros minutos, eu ligasse a televisão e visse um economista fazendo uma previsão para o próximo semestre, mas o que me importaria se eu já nem estaria mais ali? Então eu pensaria em como gastamos tempo nos preocupando com as coisas erradas.

Eu sei que tenho uma necessidade de realizar algo no campo social. O sentido da minha vida se preencher com isto. Eu, simplesmente, não consigo pensar que os outros são os outros (e que se danem!). Até hoje eu lembro da mulher que caiu sobre o guarda-chuva há uns seis anos ou mais. E eu acumulo esse tipo de coisa... o mendigo que foi xingado, o homem humilde tossindo a caminho do hospital, a mulher que caiu do ônibus semana passada... Às vezes, me pego pensando nessas pessoas, embora saiba que elas sequer ou mal me notaram.

Mais recentemente, vi um senhor que se arrastava pelo chão porque não podia andar. Ele tinha calos nas mãos comparáveis aos de um "Homem Elefante" de David Lynch. Dei uma garrafa de água para ele, que se limitou a tomar dois goles, pois não tinha como carregar o recepiente. Segui meu caminho e, mais a frente, pensei: "Tu choras por tantas coisas pequenas, Leandro, mas agora tens aí algo digno de ser chorado". E me derramei um pouco na rua.

Esses dias eu fui falar com o rapaz da faculdade que não se deixava viver. Eu sei que aquilo não representou nada pra ele, talvez eu até tenha dado mais um motivo para que ele me xingue. Mas tudo que eu queria era saber se ele estava bem, então perguntei.

Como eu poderia passar a minha vida inteira sem tentar fazer qualquer coisa...

quinta-feira, agosto 03, 2006

Direito à informação

Sinceramente, com todo o respeito que eu tenho pela Folha de São Paulo - até porque é o jornal que eu mais leio -, preciso dizer que é revoltante a maneira como as informações são repassadas nesse país.

Há duas semanas, esse, que é talvez o jornal mais prestigiado do país, divulgava a lista de 57 parlamentares investigados pela CPI dos Sanguessugas, que analisará o desvio de verbas públicas originalmente destinadas à compra de ambulâncias.

O que me revolta não é o fato de divulgarem o nome de parlamentares que ainda não foram condenados, mas a maneira como isso é feito: "Veja lista dos 57 parlamentares investigados pela CPI dos Sanguessugas". Penso que, tendo eles usado o verbo no imperativo, está mais do que explícito o intuito sensacionalista atribuído, mormente por estarmos próximos do período eleitoral. Esquecem-se que a Comissão Parlamentar de Inquérito é um instituto deveras criticado, muito utilizado para fins políticos e pouco nobres.

Entretanto, não é isso, enfim, que me motivou a escrever algo fora do que eu costumo publicar. Não. Eis que hoje, ao entrar no sítio da Folha de São Paulo, me deparo com a seguinte headline: "Suposto pedófilo é condenado em Santa Catarina". Se alguém, além de mim, tem o mínimo de senso crítico, entende bem a minha indignação. "Suposto porque não é teu filho", dirão.

De fato, a sentença que condenou o motorista de uma van escolar por abusar de seis garotas não é definitiva, uma vez que ainda cabem recursos, muito embora constem exames de conjução carnal que comprovam os crimes.

Não se trata aqui de achar que parlamentares corruptos são menos criminosos, mas é uma questão de ponderação de valores, de indignação com o trato dado às informações e, sobretudo, de assombro com as finalidades à que o jornalismo deste país se presta.

Vejamos o caso do programa "Linha Direta" da Rede Globo de Televisão, que será um eterno amargor na minha boca. Procede-se a um relato dos fatos, acompanhado de uma reconstituição dos crimes e, ao final, a depoimentos emocionados de familiares que manifestam seu desejo por justiça num "eu-espero-que-ele-pague-pelo-que-fez". Alguns desses criminosos, não nego que o sejam, sequer foram julgados, e mesmo assim têm seus rostos exibidos em rede nacional.

Bem, para os que estavam se perguntando porque eu leio a Folha de São Paulo todos os dias, embora critique tanto o jornalismo brasileiro, aí vai. Todos ouvimos falar dos ataques que o PCC fez não só a policiais como também a civis. A Rede Globo, inclusive, exibiu em seu programa "Fantástico" o relato de uma escrevente policial que escapou por um triz da morte. E, por acaso, falaram quantos suspeitos - agora sim, no sentido próprio da palavra - foram mortos pelos policiais no primeiro semestre de 2006 só no Estado de São Paulo? Pois eu os ajudo: 328. Como bem ilustra o título da notícia - e nesse ponto eu me recordo de Exupéry, que falava que a pessoas grandes adoram números - foram 84% mortes a mais do que nos seis meses anteriores.

Senhores, até aqui não foi nada. Agora vem o que mais me assusta. Neste mesmo período, o número de prisões foi 2% menor. O que podemos extrair destes dados, e de tudo que foi dito até aqui, se é que podemos acreditar seriedade dos dados?
1 - As informações que chegam até nós, através dos meios mais populares de comunicação, além de não serem confiáveis, estampam uma total inversão de valores.
2 - Os "marginalizados", ainda que informalmente, possuem suas próprias leis e passam a impô-las às "pessoas civilizadas" mesmo que através de violência.
3 - Os policiais, que deveriam garantir a segurança de todos, em vez de prender os suspeitos para que sejam devidamente julgados, se defendam e, se for o caso, sejam condenados, têm preferido simplesmente matar as pessoas. Mas só 328 por semestre, vezes 26 estados e 1 distrito federal. São só números.
4 - As pessoas na televisão querem que as outras "paguem pelo que fizeram" mesmo quando estas ainda não foram condenadas.


Espero estar errado, mas penso que temos muitos dos ingredientes que para algum maníaco suba ao poder e diga "Cidadãos brasileiros! (aplausos) Gostaria de dizer-vos... (aplausos)... que diante da situação em que nosso país se encontra... (aplausos e aclamações)... instalamos a partir de hoje, um regime totalitário... (aplausos, aclamações, holas e bundalelês)".

Tudo isso que passa na televisão, que lemos nos jornais, toda essa distorção de valores, descrença na nação: tudo serve para criemos sede por sangue, até o dia em que permitiremos que alguém suba ao poder e faça o que for preciso para solucionar o problema, nem que isto custe nossa liberdade, afinal, as grades já estão em nossa janelas.

Estejam informados!



***
Nota mental: terminar de ler "As origens do Totalitarismo" de Hannah Arendt.

terça-feira, agosto 01, 2006

Uma vez, me chamaram de sol
disseram que eu trazia vida
alegrava as pessoas

acho bonito isso
de emanar algo bom
de iluminar as coisas
é o que eu sempre tento

as pessoas esperam que eu as faça rir
- sempre -
mas o sol vai queimando aos pouquinhos
e há de ser forte para não se deixar apagar de vez

na realidade, não
eu sou uma ilha
uma ilha dentro de uma Ilha
e me sei sozinho
e impotente
- nem gosto mais de olhar as pessoas na rua -



quem sabe eu seja uma criança na janela
- na grande janela -
que ao ver uma estrela cadente
se apega à esperança
que não abre mão da fantasia,
fazendo um pedido tolo

um dia - daqui a uns oitenta anos -,
quando eu não tiver mais forças, eu mesmo irei ao chão
em alguma varanda voltada pras árvores do meu quintal
e a minha xícara de chá esfriará em cima da mesa sem que ninguém note
assim como se apaga o meu sol





(as pessoas querem as coisas erradas
não há espaço para bons sentimentos
as pessoas não querem a suave manhã
querem os sóis de meio-dia

mas o dia que eu me render ao que é vão
estarei eclipsado)