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quarta-feira, agosto 16, 2006

Eu sei que eu sou ingênuo quanto a possibilidade de mudar as coisas. E também o sou sobre ter bons sentimentos. E, sim, isso me faz sofrer por diversas vezes. Mas como eu poderia acreditar que tudo o que importa são os 60, 80, 100 anos que eu vou viver? Ou 22... sei lá! Acho pequeno pensar assim, porque antes de mim já vieram muitos outros 60, 80, 100 anos. E tantos mais virão depois...

Eu procuro imaginar quais os pensamentos que eu gostaria de ter segundos antes da minha morte - porque isso será inevitável. Fico pensando o quanto seria atordoante ver uma vida inteira dedicada a conquistar riqueza, segurança e felicidade pessoal. Quem sabe, nos meu derradeiros minutos, eu ligasse a televisão e visse um economista fazendo uma previsão para o próximo semestre, mas o que me importaria se eu já nem estaria mais ali? Então eu pensaria em como gastamos tempo nos preocupando com as coisas erradas.

Eu sei que tenho uma necessidade de realizar algo no campo social. O sentido da minha vida se preencher com isto. Eu, simplesmente, não consigo pensar que os outros são os outros (e que se danem!). Até hoje eu lembro da mulher que caiu sobre o guarda-chuva há uns seis anos ou mais. E eu acumulo esse tipo de coisa... o mendigo que foi xingado, o homem humilde tossindo a caminho do hospital, a mulher que caiu do ônibus semana passada... Às vezes, me pego pensando nessas pessoas, embora saiba que elas sequer ou mal me notaram.

Mais recentemente, vi um senhor que se arrastava pelo chão porque não podia andar. Ele tinha calos nas mãos comparáveis aos de um "Homem Elefante" de David Lynch. Dei uma garrafa de água para ele, que se limitou a tomar dois goles, pois não tinha como carregar o recepiente. Segui meu caminho e, mais a frente, pensei: "Tu choras por tantas coisas pequenas, Leandro, mas agora tens aí algo digno de ser chorado". E me derramei um pouco na rua.

Esses dias eu fui falar com o rapaz da faculdade que não se deixava viver. Eu sei que aquilo não representou nada pra ele, talvez eu até tenha dado mais um motivo para que ele me xingue. Mas tudo que eu queria era saber se ele estava bem, então perguntei.

Como eu poderia passar a minha vida inteira sem tentar fazer qualquer coisa...