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quinta-feira, março 10, 2005

Definindo Inocência e Pretensão Humanas

Depois que eu li "O Mundo de Sofia" de Jostein Gaarder eu começei a considerar a possibilidade de vivermos num mundo multidimensional, onde existiriam vários universos, cada um com seus elementos próprios. Essa infinidade de universos correria no que eu chamo "paralelo coincidente", que a princípio pode parecer um pouco parodoxal. Isto porque, apesar de, para mim, esses planos dividirem o mesmo tempo e o mesmo espaço - coincidíveis, os elementos de um universo poderiam ser imperceptíveis a outro - paralelos.
Para tentar me fazer entender imaginem o nosso universo: este que conhecemos vagamente. Um "indivíduo" seria um elemento próprio do nosso universo, bem como a "casa" onde ela mora. Ambos receberam nomes para serem individualizados, e são costituídos de algo que convencionamos chamar de "matéria", de átomos. E nós sabemos da existência desse algo porque usamos dos nossos sentidos (tato, olfato, audição, visão e paladar) nessa percepção. Acontece que o ser humano por vezes se esquece que os sentidos são coisas físicas e biológicas e químicas provenientes de evoluções. Pelo menos para os adeptos do Darwinismo. Não seria mais lógico acreditarmos que os sentidos continuarão a se aperfeiçoar com o tempo? Ou mesmo que surgirão novos sentidos, que nos darão percepções de outras coisas? É como um ser primitivo dizer que o fogo não queima, simplesmente porque ele possui uma deficiência biológica peculiar e individual que impede que os neurotransmissores causem a sensação de dor no seu cérebro. Ou como um daltônico querer afirmar veementemente que não existe o roxo.
Eu gostaria de dar um exemplo de um novo sentido que possa vir a surgir, mas o nome e a descrição que se dão às coisas são posteriores a existência do "algo". Talvez um sentido telepático, não sei.
Então, considerando que nossos sentidos sejam falhos e imperfeitos e incompletos, será que não podem haver "formas de vida" ou "matérias" incapazes de impressionar os nossos sentidos e causarem sensações, bem como existem o infra e o ultra-som que não "impressionam" a nossa audição? Não seria razoável a gente partir do pressuposto que não somos perfeitos, que não conhecemos tudo, que existem coisas que não sentimos, mas que não deixam de existir simplesmente porque não sentimos?! Coisas que não nos impressionam mas que nem por isso deixam de existir para além de nós?
Isso, para mim, não acontece simplesmente com os sentidos físicos e químicos e biológicos, porque também possuimos sensações racionais e emotivas e psíquicas. Algo remete ao dualismo corpo-alma, matéria-espírito, substância-ânimo, forma-extensão, plano objetivo e plano subjetivo.
Além disso, sou partidário daquela máxima enunciativa de que "a parte conserva as propriedade do todo", ou seja, o mesmo que aconteceria entre os possíveis universos paralelos-coincidentes, aconteceria entre as pessoas. Mesmo porque entre duas ou três ou quatro ou infinitas pessoas que convivem e se estimulam sentidos através de seqüências de "signos" o que de fato há são universos paralelos-coincidentes tentando se comunicar, inabsorvíveis na sua complexidade inimagivável e imensurável. Tendando quebrar a barreira dimensional.
Entre esses universos um erro grosseiro é compartilhado: o de achar que você conhece o plano subjetivo (interno ou essência) simplesmente porque sujeita o plano objetivo (externo ou aparência) aos seus próprios e falhos sentidos e percepções. E eu tomei conhecimento disso, o que não significa que eu não erre da mesma forma, tomando concepções subjetivas de pessoas que nada têm a ver com o ser íntimo, com o seu "eu" recôndito.
Isso é inocência: querer conhecer racionamente algo através dos sentidos.
Isso é presunção: querer sentir algo através do racional.
E vice-versa.


(Conceitos que se complementam em "dialética hegeliana" como diria meu professor de Deontologia)

(senti um pouquinho de Descartes, dentre outros no meu texto)