gmr

sexta-feira, novembro 11, 2005

Como se fôssemos viver para sempre

Deve ter acontecido por volta dos seus 10 anos de idade; quem sabe, até antes. Um dia, você passou a ter medo do escuro, levantou da sua cama, foi deitar junto dos seus pais e chorou. Isso, provavelmente, ocorreu bem próximo à epoca em que você descobriu que as pessoas morriam.
Não há uma maneira fácil de explicar isso para uma criança. Não há "papai-do-céu" que nos valha. As pessoas morrem: dura lex, sed lex.
O engraçado dessa experiência da primeira morte é a maneira como ela é tratada. No afã, os adultos sempre nos fazem crer que a morte não virá para nós tão cedo (talvez porque seja esta a sorte que eles esperam para si).
Passamos a vida inteira fingindo que não vamos morrer. Fingindo que não precisamos dizer o quanto amamos as pessoas, que podemos adiar a visita surpresa e o trabalho voluntário para outro dia. Deixamos o amor à mãe reservado para o segundo domingo de maio; o sentimento pelo pai, fica para o segundo de agosto; a solidariedade, para o Natal; a diversão, para as férias; o respeito ao índio, para o Dia do Índio; ao meio ambiente, para o Dia do Meio Ambiente; à secretária, para o Dia da Secretária. Sempre com letra maiúscula para ficar bonito. para ficar bonito.
Pior do que isso, são os outros resquícios que essa falsa sensação de eternidade nos deixa de herança: adiamos os pedidos de desculpas, guardamos ódios gratuitos, nos fechamos em orgulho e ego. Escravos das situações. Tudo por medo, por preguiça infantil de admitir que precisamos nos esforçar para transceder as quinquilharias (olhe no dicionário exatamente o que essa palavra significa).
Caros, o tempo é finito para nós. Atente bem para o que você faz com o seu. Com tanta coisa boa para se sentir, porque escolher as ruins? Afinal, o que leva um ser mortal a crer que ele possui o direito de odiar algo ou alguém?
Como se fôssemos viver para sempre...