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quarta-feira, maio 10, 2006

Há pouco mais de um ano, o meu principal medo era o de morrer velho, com câncer e me culpando por não ter dito ou feito coisas que queria. Não era morte, em si, que me assustava. Eu temia a possibilidade de deixar o mundo sem dar a esta alma o gosto de um amor recíproco. Para mim, era certo que se eu não amasse eu teria câncer.
De todas as coisas que eu quis para minha vida, "amar e ser amado" sempre foi a mais importante. Sim, pouco autêntico, mas enfim... Não era um objeto, não era uma profissão, não era a minha família e não era um Deus.
A única coisa que poderia, talvez, se aproximar disso era minha vontade de escrever um livro. Mas quem nunca foi capaz de amar não deveria se atrever a escrever, disso eu tinha certeza.
Enfim, tive a graça de viver um amor por um período considerável e bom. E que passou sem me deixar vazios.
Hoje, eu não me importaria de não ter mais vida em mim, porque sinto que eu já estive verdadeiramente nela.
Eu sei que a morte não está chegando para mim, pois, embora eu lhe concedesse me levar, não sinto que me ronde. Eu me prometi jamais experimentar o chão novamente; e, não sentindo dor, eu sou capaz.
Não há nada o que fazer senão olhar, indiferente, o sangue escorrendo pelas minhas pernas. Eu não tenho tempo para doenças...
Quem sabe eu ainda escrevo aquele livro.