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sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Diálogos urbanos II e III

Erra quem prevê as possibilidades futuras de um país com base em dados de investimentos na economia, na educação. Peca quem estuda a cultura de um país em livros. Bastaria andar de ônibus:

PSICOLOGIA INFANTIL
- Senta no colo da mãe.
- Não quero, 'brigado.
- Senta aqui, senão você vai cair, menino.
- Se eu sentar aí vai ser ruim pra mim e ruim pra você. Aqui, eu tô bem.
- Hãm!
(...)
- Olha mãe: uma rua íngreme!
- Sim, meu filho.
- Olha, que rua íngreme! - repetiu, no evidente orgulho de quem aprendeu algo difícil.
- Tá, agora chega - respondeu áspera e desinteressada

Eu ao lado. Impressionado com a argumentação do menino de 6 ou 7 anos. Frustrado por ter aprendido a palavra "íngreme" somente quando estava na sexta série do primário.
Ao menos, eu não era como a mãe, uma péssima entendedora de psicologia infantil.


***

AO LADO DA MALÍCIA
Duas crianças entram no ônibus carregando balões.
Sentado ao fundo, ao meu lado, um menino de seus 9 anos fala para o pai:
- Pobre é fogo, né! Vai nas festa (sic) e carrega tudo!
Tivesse decorrido um lapso de segundo entre a fala do menino e a risada do pai, eu teria comentado que "para começar, 'rico' nem anda de ônibus". Mas, ao contrário do que eu esperava, o pai riu. Copiosamente.
Percebi que o único ingênuo ali era eu.


Como eu ia dizendo, nossas perspectivas futuras são desatrosas à exata medida do tratamento que dispensamos aos pequenos.


(e esse foi o post número 201)