gmr

terça-feira, novembro 22, 2005

Hoje achei um poema que escrevi em 30 de dezembro de 2004, num momento trágico, eu diria.
Eu nunca cheguei a publicá-lo, como uma série de coisas que eu tenho perdidas por aí. À época, o achei muito "erótico", mas é bonito mesmo assim. Felizmente hoje ele não faz mais sentido.



Toda a vez que se ama,
parece ser a primeira vez.
Todo lençol, toda cama,
de ouvir sussurros se fez.

Nada parece tão certo,
tão bonito ou tão feio.
Coração recém-desperto
em noites que só têm meio

E, ao fim, não há dor maior
Amarga-doce ilusão!
Tua falta se faz pior
porque cismou meu coração¹

Toda vez que amamos,
cremos ser a primeira vez.
É pena que esqueçamos
a dor do que sequer se fez

Pois quem sabe sequer exista amor
E tudo se resuma a isto:
Um abraço, um beijo, um calor;
Um suspiro, um gozo, um grito.



¹ - esse poema possui uma clara e proposital referência a outro, de Gonçalves Dias, em que este escreve "amor, delírio-engano" e mais adiante "cismou meu coração, cismou minha alma". Cismar: pensar com insistência, preocupar-se).