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quarta-feira, fevereiro 09, 2005

"Escrita Automática"

...Mais uma vez aquela sensação de milhares de coisas passando na cabeça. Tantos pensamentos sobre tantas coisas! E tudo ao mesmo tempo: vida, amigos, amores, desejos, objetivos, sentidos de vida, contradições, pessoas.
Ah, essa profusão de coisas! Nem sei se todas elas têm nomes. Gostaria de catalogá-las para consultar depois. Se ao menos pudesse organizá-las!
Minhas limitações, enquanto escrevo, são apenas o papel, a tinta que resta da caneta e o tempo. Se eu sou pequena matéria passageira no meio do Universo, pobre desses instrumentos que sequer conseguem traduzir o que essa partícula aqui pensa.
Talvez nem haja meios para representar o que eu penso. Eu gostaria de inventar algo para tanto, mas mais uma vez: Ah, seu eu ao menos pudesse organizar meus pensamentos!
Escrever sem propósito: eis o que ora faço. Escrita compulsiva e quase involuntária. Nesse emaranhados de frases dos últimos meses espero me encontrar um pouco. Não necessariamente agora, quem sabe daqui a uma década. Mais importante do que a rapidez é a eficiência.
Ah, tanto que penso! Se perdem meus pensamentos iniciais a cada linha que avanço. É como abandonar seus propósitos. Mas como digo: "um dia eu ainda me encontro. E espero poder me olhar de frente. E me ver e me ver. Infinitamente."
Me conhecer e me reconhecer. Para além da mera representação do que se quer entender por "pessoa". Sou um existencialista. Um esteta, por enquanto.
Ah, o que sou eu? Quantos erros nessa vida? Quando tempo jogado ao sabor do vento? Quantas pessoas eu mesmo atropelei e atropelo? Ah, os meus valores! Que são eles se não produtos de vivências? Algumas vezes mal passam de tristes e feios traços de traumas mal-acabados! Ah, o meu viver! Ah, o meu agir! Ah, o meu querer! Ah, o meu sentir! Impulsos irracionais de idéias mal curtidas, mal expostas ao sol!
O que tenho feito eu? O que faço eu? Quanta gente machuco eu? Com quem me importo eu? Por quê me importo com quem me importo eu?
Eu!
Eu!
Eu!
Como invejo quem diz "Não é problema Meu" e não sente o pesar.
...
(suspiro)
Tantas perguntas! Saltitam milhares frente aos meus olhos durante essa escrita rápida. Já nem me vejo no palco, mas antes como espectador.
Logo eu, que gosto tanto de palco!
Um dia hei de encenar minha própria peça, um monólogo. Será uma comédia! Hei de ter todo o domínio do espaço, toda expressão corporal e todos os tons para a voz. Na iluminação predominará o vermelho (não sei o porquê, mas me ocorreu agora); mas, suspeito, haverá todas as nuances de todos os espectros das cores. Talvez para simbolizar que eu me sinto pensando toda a sorte de coisas. Amarelas e Azuis. Verdes e Roxas. Laranjas e Rosas.
Um dia... uma peça.. eu serei o protagonista. Não hei de querer aplausos ou vaias. Talvez até proíba que haja platéia (para proteger os próprios críticos).
Um dia... quando eu me encontrar... então poderei escrever algo racional. Agora sou só sentimentos, mal sei eu de onde eles vêm. E sentimento não se pensa, se sente. São impressões.
É isso que me mantém feliz nos últimos dias: essas coisas que se sente, essa quase-consciência, esse quase-controle, esse quase-conhecimento, essa quase-crônica, esse quase-saber-ser.
Eu sou um quase,
mas sou algo.
Não sei o quê,
nem sei o quanto,
só sei ser quase-algo.
Por enquanto...