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terça-feira, dezembro 13, 2005

Bons modos à mesa

Quando um adulto fica reprimindo uma criança, dando respostas simplistas para as perguntas complexas, mandando que não se mexa aqui e ali, que tome banho antes das oito... quando isso acontece nós podemos entender: são pobres adultos, maltratados pelos pais anos a fio antes, reproduzindo seus traumas. Tentam controlar a vida de alguém, já que a deles foi impossível.
Preocupante é quando as próprias crianças começam a reproduzir isso umas com as outras. Foi isso que pensei enquanto almoçava.
Era uma mesa com três meninas: duas morenas, por volta de seus dez anos; a outra, uma linda lorinha de cabelinhos encaracolados, cinco anos de idade e uma boca muda, como pedia a situação.
Eu almoçava e tentava me esquivar do que ouvia:
- Você só vai tomar seu refri depois que comer tudo. Cada mi-ga-lhi-nha - assim, destacando as sílabas, conforme os usos de quem sabe prolongar o sofrimento.
E não parava:
- Mastiga de boca fe-cha-da!
Para mim, sempre foi perturbador ver como os adultos tratavam as crianças. Quem quiser fazer um laboratório, entre em um ônibus, sente-se bem e observe os "não fique de pé em cima do banco", "se segura direito", "senta como gente", "tira isso aí da boca". O que me espantava, nesse caso, eram as próprias vítimas reproduzindo a velha educação assim tão cedo.
A situação em que eu me encontrava, apontava uma decisão irresistível. Ao terminar de almoçar, levantei, fui até a mesa e disse:
- Por que você trata ela assim? Você lembra quando você era menor e estava almoçando? Não era ruim quando enfiavam comida na sua boca? Então... tenta tratar ela um pouquinho melhor, tá?!
Depois fiquei pensando na besteira que eu fiz. Se nem de adultos cobramos atitudes sensatas, se nem a eles ensinamos como tratar bem os pequenos, por que eu fui esperar isso de um criança? Não é, afinal, isso que ela aprendeu com o "Brincando com a Barbie na cozinha" do último Natal?